O Balneário #1
Em uma noite de inverno em 1993, um grupo de amigos joga um jogo que desafia a realidade.
Era uma noite fria do inverno de 1993. O Balneário de Açores, em Florianópolis, se transformava em um cenário quase fantasmagórico, distante do burburinho das estações mais quentes. A praia agora jazia mergulhada em um silêncio contemplativo, interrompido apenas pelo sussurro constante das ondas contra a areia.
Numa casa à beira-mar, a luz suave da varanda se destacava na escuridão, revelando um refúgio contra o tédio da temporada. Ali, sob um manto de sombras dançantes e a trilha sonora do mar, um grupo de amigos se reunia, cada um envolto em seus próprios mistérios e segredos, as faces iluminadas pela luz fraca criando um mosaico de almas jovens e inquietas.
Gustavo, o pensador rápido com um olhar sempre distante; Clara e Carol, gêmeas de personalidades opostas, mas inseparáveis; Nina, a observadora cujos olhos refletiam histórias não contadas; Lara, de espírito selvagem e coração indomável; Lucas, o eterno brincalhão que mascarava suas verdadeiras emoções; Kaio, o pilar de razão em meio ao caos; Sofia, a inquieta sonhadora com palavras não ditas; Marina, com sua paixão por mistérios; e Rafa, com um sorriso que escondia inseguranças, cuja presença sempre trazia um ar de mistério e dúvida.
Entre risos abafados e olhares trocados, havia um subtexto de relações não resolvidas – amores não correspondidos, invejas escondidas e rancores mal curados. Nesta noite, as linhas entre amizade e algo mais eram tênues e incertas. Foi Gustavo quem quebrou o silêncio, olhando para seus amigos, cada um imerso em seu próprio mundo.
"Que tal um jogo?" ele propõe, a voz rompendo o silêncio, misturando-se ao vento frio permeado pelo cheiro do mar, úmido e salgado. "Um RPG, mas com um toque especial: nós mesmos seremos os personagens, e nossa aventura começa aqui, agora, nesta varanda." A sugestão acendeu uma faísca de interesse, mas sob ela, uma corrente de tensão fluía.
Gustavo traçava as linhas do jogo que acabara de imaginar. "E eu vou mestrar a aventura e vocês seguem a história, como vocês fariam sendo quem são", sua voz agora estava misteriosa de propósito, capturando a atenção de todos.
Aquele espaço era sua própria rede social, sem avatares, em um tempo onde apelidos eram mais que arrobas e celulares ou internet constante ainda eram promessas para um futuro distante. Distrair-se era um desafio diário que não envolvia cliques e arrastos constantes de feeds.
Lucas, sempre com um sorriso pronto, escutava animado, enquanto as gêmeas Carol e Clara trocavam olhares cheios de mistério. Nina observava tudo com seu olhar atento e pensativo.
Subitamente, um estrondo perturbador quebrou a calmaria da noite, acompanhado de um clarão que iluminou brevemente o céu noturno. Mal Gustavo havia terminado de explicar as regras do jogo, e já se encontravam diante de um evento real e inesperado.
“Que porra foi essa? Um meteoro?” Sofia desbocou alto, levantando e correndo pra frente da casa, tentando enxergar algo na escuridão.
Lara já corria em direção à praia, Gustavo e Lucas, impulsionados pela curiosidade, seguiram atrás, ansiando por uma aventura real.
Marina olhou para Sofia. “Vamos nessa? Eu preciso ver isso, Sofia.” Sofia parecia em dúvida do que fazer.
Nina, Carol e Clara decidiram ficar na varanda, hesitantes diante do desconhecido. Por outro lado, Rafa e Kaio, sentindo um misto de cautela e um desejo de segurança, deixaram a casa das gêmeas e caminharam juntos pelo balneário deserto, subindo a estrada em direção às suas próprias casas. Nina sentiu uma pontinha de vontade de seguir os dois, mas preferiu ficar com as amigas.
A brincadeira na varanda da casa de Carol e Clara estava prestes a se tornar uma aventura que desafiaria a realidade de todos eles. Nessa noite, o Balneário de Açores seria palco de uma jornada real e inesperada, que testaria os limites da amizade, do amor e do medo, tecendo uma história que eles jamais esqueceriam.
(--- continua ---)