Os Próximos - Capítulo 2
Clara e Ícaro marcam encontro com uma amiga em uma cafeteria. Ela acabou de terminar um relacionamento.
2. Reconectar
Marina
Conforto e boas memórias.
Era isso que uma das cafeterias preferidas de Clara e Ícaro ecoava. Estavam sentados em um canto aconchegante, o aroma de café recém-moído pairava no ar, misturado ao som suave da música instrumental ao fundo e ao cheiro de pães frescos e doces. As paredes de tijolos expostos, janelas amplas que deixavam a luz do sol entrar e móveis de madeira escura davam um ar acolhedor. Era um ambiente familiar, quase um refúgio, onde já tinham degustado muitas tardes juntos.
Clara segurava sua xícara de café quente entre as mãos, aproveitando o calor que se espalhava pela cerâmica. Ela olhou para o relógio, tomou um gole e sorriu, dizendo: "Estamos realmente tomando um 'brunch depois do café da manhã', não é?", brincou, tentando aliviar a tensão que sentia no ar. “Acho que nosso amor por café nunca vai diminuir."
Ícaro riu, mas seus olhos mostravam um traço de apreensão. "Eu ainda acho que deveríamos ter sido mais diretos com ela. Talvez ela nem venha, quem sabe como ela está se sentindo depois de tudo?"
Clara balançou a cabeça, tentando aliviar a tensão. "Ela vai aparecer. E precisamos ser sutis, Ícaro. Se a gente simplesmente disser que achamos que ela está em perigo, ela vai se fechar imediatamente."
Ícaro suspirou, olhando para a porta. "Eu sei, mas é difícil não me preocupar. Não é fácil para ninguém passar por um término traumático."
Eles relembraram o plano: a missão incomum que decidiram embarcar. Clara tinha tido um sonho premonitório, uma sensação intensa de que alguém próximo estava em perigo. Decidiram, então, contatar amigos íntimos, familiares e até pessoas que não viam há tempos, com o objetivo de descobrir quem estava em perigo. Marcariam encontros com cada um desses amigos e iniciariam conversas para avaliar seu estado emocional. Queriam ter certeza de que cada pessoa estava bem e não precisava de ajuda.
A conversa foi interrompida quando a porta da cafeteria se abriu e sua amiga entrou. Marina, uma jovem de cabelos castanhos curtos e olhos expressivos, vestida de maneira casual, com um ar ligeiramente abatido. Ela avistou Clara e Ícaro e caminhou em direção a eles com um sorriso tímido.
"Oi, Marina!" Clara levantou-se para abraçar a amiga. "É tão bom te ver, amiga."
Marina sorriu, mas havia uma sombra de tristeza em seus olhos. "Oi, Clara. Oi, Ícaro. Desculpem a demora, estava difícil sair de casa hoje." Ela sentou-se. “Mas, obrigada, gente. Eu realmente precisava de um ar", falou, seu sorriso se alargando ligeiramente.
"Jamais se desculpe, Mar, tá tudo bem. A gente entende total o sentimento." Ícaro disse com sinceridade, mas tentando parecer descontraído. "Como você está?"
Os três se sentaram e Clara chamou o garçom para fazer o pedido de Marina. Eles começaram a conversar sobre coisas triviais - o trabalho, hobbies, memórias antigas - antes de finalmente tocarem no assunto do término de Marina. A conversa fluiu naturalmente, com Clara e Ícaro fazendo perguntas e ouvindo atentamente.
"Relacionamentos são complicados", disse Clara, após Marina desabafar sobre o ex-namorado. "Não é só sobre você, é sobre vocês, duas pessoas tentando se entender." Ela olhou discretamente para Ícaro, com um sorriso leve nos lábios. “E quando não funciona, é um processo doloroso."
Marina suspirou profundamente. "Tem sido complicado. É como se uma parte de mim estivesse faltando, mas ao mesmo tempo, sei que foi o melhor. Não era bom para mim, e eu preciso seguir em frente." Olhou para a sua xícara de café. “É só... às vezes parece que nada do que eu fazia era o suficiente. Me pego pensando se poderia ter feito algo diferente, se talvez eu fosse mais compreensiva, mais paciente..."
Ícaro, que estava quieto até então, falou: "Mar, você não pode se culpar por isso. Algumas coisas simplesmente não são para ser, e você precisa se dar crédito por ter sido forte o suficiente para terminar algo que te fazia mal."
A garota terminou seu gole de café e sorriu, ainda com certa tristeza. "Obrigada, Ícaro. Eu tento me lembrar disso todos os dias. Tem sido difícil, mas estou seguindo em frente."
A conversa continuou, entre lembranças do passado e planos para o futuro. Clara e Ícaro prestavam atenção em cada palavra, cada gesto, tentando detectar qualquer sinal de que Marina estivesse em um estado mais vulnerável do que aparentava. A conversa levou a uma reflexão profunda sobre os altos e baixos dos relacionamentos, e eles continuaram tentando perceber se Marina estava passando por um momento perigoso que pudesse levá-la a fazer mal a si mesma.
Quando a tarde começou a se esvair, Clara sentiu que era o momento de concluir. "Marina, queremos que você saiba que estamos aqui para você, sempre. Se precisar de qualquer coisa..."
A amiga agradeceu, gratidão e carinho evidente no olhar. "Eu sei, Clara. Vocês são amigos maravilhosos. É muito bom poder reconectar."
Após despedidas calorosas, Marina deixou a cafeteria, e Clara e Ícaro ficaram observando-a se afastar.
"Então, o que você acha?" Ícaro perguntou.
"Ela é forte. Acho que vai ficar bem," Clara sentia-se mais aliviada, embora ainda houvesse uma leve dúvida em sua voz.
"Tem certeza? Eu ainda acho que deveríamos ter sido mais diretos com ela sobre seu sonho," Ícaro falou, ainda preocupado. "No caso de haver algo que não estamos vendo."
"Se tivéssemos feito isso, ela teria negado imediatamente. É a tendência das pessoas. Elas se protegem", explicou Clara.
"Talvez tenhamos que ser mais sinceros nos próximos encontros. Abrir o jogo", insistiu Ícaro.
Clara ponderou por um momento, tomando um último gole frio de café. "Talvez você tenha razão. Mas cada pessoa é diferente. Vamos sentir como a conversa flui e agir de acordo. Mas com ela, sinto que foi a abordagem certa."
Ícaro suspirou, mas concordou. “Ok, qual é o próximo?”
Clara olhou para o namorado e em seguida pegou o celular, entrou no whatsapp procurando um contato específico.
Continua…